Dez anos após os ataques do 11 de Setembro de 2001, os americanos ainda estão caminhando em uma corda bamba emocional, com mais confiança nos esforços do governo contra o terrorismo, mas ainda temendo que uma catástrofe parecida aconteça novamente.
Pesquisas realizadas pelo The New York Times em parceria com a rede CBS News em agosto (em Nova York e outros locais do país) revelaram uma crença generalizada de que Nova York ainda não se recuperou totalmente dos ataques, profundas divisões sobre a criação de um centro islâmicoperto do Marco Zero e a preocupação de que os trabalhadores de resgate não tenham sido tratados de forma justa.
Muitos entrevistados expressaram a sensação de que mundo mudou e se tornou menos seguro do que era antes dos ataques. Em Nova York, 79% disseram que a cidade sempre irá enfrentar a ameaça do terrorismo. Na pesquisa nacional, 83% dos americanos disseram que o país enfrenta o mesmo problema.
"Dada a natureza do mundo em que vivemos e a forma como alguns países nos veem, acho que um outro ataque contra os Estados Unidos é inevitável em algum momento no futuro", disse Walt Sledzieski, 56 anos, consultor de marketing que vive em Boise, Idaho. "Mas ainda acredito que estamos fazendo a coisa certa para nos proteger, dentro dos limites das nossas liberdades e da maneira que queremos agir como um povo."
A pesquisa foi realizada em toda a cidade de Nova York com 1.027 adultos entre os dias 09 e 15 de agosto, e nacionalmente com 1.165 adultos entre 19 e 23 de agosto. Ambas as pesquisas foram realizadas pelo telefone e têm uma margem de erro de 3 pontos percentuais.
Segundo as pesquisas, 38% dos moradores de Nova York acham que outro ataque terrorista nos Estados Unidos provavelmente irá acontecer nos próximos meses, uma queda em relação aos 57% registrados em uma pesquisa Times/CBS News realizada há cinco anos. Nacionalmente, o número de pessoas que acredita que um ataque é provável em breve caiu de 59% para 42%.
Os índices crescentes de pessoas que se sentem mais seguras têm relação com a impressão de que o governo está trabalhando duro para proteger o público. Quase metade dos moradores da cidade acha que o governo federal fez o esperado para manter o país a salvo do terrorismo. Há cinco anos, apenas um quarto se sentia assim.
Pouco mais da metade dos nova-iorquinos disse que o governo da cidade havia feito sua parte para proteger Nova York e que a cidade está adequadamente preparada para lidar com outro ataque. Ainda assim, muitos moradores expressaram preocupação de que a cidade não está suficientemente vigilante, particularmente nos metrôs: 57% disseram que as medidas de segurança não são suficientes.
"O Departamento de Polícia de Nova York está fazendo o melhor que pode, mas quando ouço sobre o que está acontecendo no exterior, o que os terroristas estão fazendo, fico apreensiva porque você não sabe quando algo grave pode acontecer aqui novamente", disse Geeta Ghaindranauth, 41, diretora de uma clínica de saúde da mulher, que trabalhou por quatro anos no andar 102 da Torre Norte do World Trade Center.
Ela acrescentou: "Fico preocupada quando ouço que departamentos de bombeiros estão sendo fechados e policiais demitidos. Sinto que precisamos deles para nos proteger e nos manter seguros."
As pesquisas refletem como o 11 de Setembro perdeu um pouco de força na mente das pessoas, mas continua a ser uma constante na vida americana, especialmente em Nova York.
Cinco anos atrás, um pouco menos da metade das pessoas em Nova York e no país disseram pensar no 11 de Setembro pelo menos uma vez por semana. Nas últimas pesquisas, 31% dos moradores da cidade e 27% das pessoas de todo o país dizem fazer o mesmo. Mas apenas 7% dos moradores da cidade acham que os nova-iorquinos se recuperaram completamente do impacto emocional dos ataques.
O 11 de Setembro deixou questões e preocupações não resolvidas. Um quarto dos americanos dizem ter sentimentos negativos em relação aos muçulmanos por causa dos ataques ao World Trade Center – 73% dizem não ter. Da mesma forma, 20% dos moradores da cidade de Nova York também dizem ter sentimentos negativos em relação aos muçulmanos por causa do11 de Setembro, enquanto 76% dizem que não.
Ainda há grande divisão em relação à proposta de criação de um centro islâmico perto do Marco Zero. Apenas cerca de um terço dos moradores da cidade é a favor do projeto, o mesmo índice de um ano atrás. Nacionalmente, apenas 27% o aprovam.
E apesar da criação de uma lei federal em dezembro que obriga o fornecimento de compensação e tratamento aos trabalhadores de resgate que estiveram no Marco Zero, ainda há preocupação sobre como eles são tratados. Apenas um quarto dos moradores da cidade afirma que os trabalhadores responsáveis pelo resgate e pela limpeza do local do ataque foram tratados adequadamente, enquanto 58% disseram que não.
"É negligência grave ignorar os trabalhadores que atuaram no Marco Zero, e tentar varrê-los para debaixo do tapete", disse Carol Lee, 48, moradora de Nova York. "Ajudá-los seria a melhor homenagem para as pessoas que morreram."
A morte de Osama bin Laden não é vista como algo que terá efeitos duradouros sobre a segurança e o terrorismo. Apenas 22% dos americanos acreditam que a ameaça do terrorismo contra os Estados Unidos diminuiu desde que Bin Laden foi morto, em maio.
Quase 60% das pessoas, tanto a nível nacional quanto apenas em Nova York, afirmam que as homenagens no aniversário do 11 de Setembro devem continuar. Menos de 10% disseram que os aniversários devem parar completamente, menos de um quinto disse que as comemorações devem acontecer a cada cinco anos e cerca de 10% disseram que deve ser a cada 10 anos.
"É importante que os mais jovens saibam o que a geração antes deles passou, para que nunca esqueçam o que aconteceu", disse Ethel Kruger, 76, um aposentado de Cameron, Wisconsin. "É muito importante que se lembrem das pessoas pulando, das pessoas queimando, do pânico e das pessoas corajosas que entraram para salvar os outros, das vidas perdidas. Acho que há uma possibilidade muito real da geração mais jovem esquecer."
Uma pesquisa separada com 246 adultos que disseram ter perdido um amigo próximo ou um parente em 11 de Setembro de 2001 revelou a angústia pessoal que permanece para aqueles mais afetados pelos ataques. Setenta por cento dos entrevistados eram amigos de vítimas do 11/09, 4% eram irmãos e os outros eram parentes.
A maioria dos 246 entrevistados disse ter se recuperado apenas parcialmente do trauma mental daquele dia. Um em cada seis disse ter sido sido diagnosticado com um problema de saúde mental como resultado do 11 de Setembro, e desses quase todos disseram que ainda sofrem com isso. Um terço disse que os filhos do amigo ou parente que morreu ainda não se recuperaram emocionalmente.
A maioria dos amigos e parentes está satisfeita com os planos para o memorial que será erguido no Marco Zero. Mas quase 30% acham que eventos que marcam os aniversários dos ataques são experiências dolorosas, que dificultam o avanço de suas vidas. Três quartos dos que perderam alguém próximo a eles dizem que o aniversário do 11 de Setembro deve continuar a ser observado anualmente, uma proporção maior do que a do público em geral.
Mas os números não transmitem a dor emocional que permanece enquanto as pessoas tentam recordar e, ao mesmo tempo, seguir em frente.
"A menos que eu desenvolva Alzheimer, nunca vou esquecer aquele dia", disse Marian Carmellino de Bronxville, Nova York, que perdeu duas pessoas próximas nos ataques. "O que você pode fazer depois daquilo? Se você não seguir em frente, eles ganham."
Um número impressionante sobre os efeitos do 11 de Setembro não tem muita relação com o evento em si. Imediatamente após os ataque, os americanos experimentaram um forte sentimento de união: mais de 60% disseram que o país estava no caminho certo em âmbito nacional, de acordo com pesquisas realizadas após os ataques, em 2001. A atitude positiva teve curta duração e logo começou a declinar. Em uma pesquisa Times/CBS News em junho de 2011, apenas 28% disseram que o país estava no caminho certo e 63% afirmaram que ele está indo na direção errada.
"Todo mundo na América se uniu", disse Scott Smith, 47, um soldador de Anderson, Carolina do Sul, que perdeu um amigo de escola no World Trade Center. “Não havia republicanos, democratas, liberais, conservadores. Todos eram americanos”.
"Agora todo mundo na América é tão furioso", disse ele. "É um mundo diferente."